sexta-feira, novembro 08, 2019

O céu está a carregar-se de nuvens. Brancas porque a lua ilumina o seu movimento. Ou não é um movimento. É uma passagem. Do tempo, mais uma vez. E existe se interrompemos o torpor do corpo para o levarmos à janela. Está alta a lua. Mais do que podemos perceber. Por cima da nossa cabeça que se aquieta com a véspera dos dias do descanso. Vã tentativa de interromper a cadência desse tempo. Que se anuncia imiscui na presença deste céu carregado.  De noite, e de amanhã. Mas há o brilho branco que nos deixa ver a tempestade e a chuva a chegar, a mesma luz que nos vê e à nossa cabeça sob este céu.

segunda-feira, fevereiro 20, 2017

A guerra acabou. Desmatam-se campos, procuram-se minas. Não há muita gente para escrever notícias. Daqui seguimos o mesmo céu com olhos diferentes. É preciso sempre tomar atenção às paredes e a tudo o que diga respeito à manutenção do outrora castelo, agora baluarte de sombras para a paz. Nem por isso deixa de entrar a água das chuvas ao mínimo descuido. Daqui seguimos o que julgamos ser o mesmo céu. Talvez também ele transporte um cheiro a cadáveres esquecidos sem que nos demos conta.
Não fosse a passagem da mulher gazela o tempo pareceria igual. Nem as estações ou a chegada das aves o distinguem no seu torpor maquinal. Ela passa, sem pisar o chão, o seu corpo como a corda de um arco. Nuns dias esticando-se sob uma flecha certeira. Noutros uma corda a tremer sob o arco da viola da gamba.

terça-feira, julho 05, 2016

terça-feira, dezembro 29, 2015

Não temos presente, nem tu nem eu, foi o que disse a Boris. É por isso que adoecemos e que é a memória que rui. Boris lembrou-me que devíamos saber de antemão haver um preço a pagar quando se empurra o corpo no correr dos dias.
Boris escreveu. Diz que mais um Natal e não comprou as botas. Pergunta-me se te encontrei e nos beijámos e como foi. Digo-lhe que nem saberíamos reconhecer-nos caso nos cruzássemos na cidade e que será por isso que penso em ti tantas vezes. Assim será difícil alguém tomar o seu lugar, diz-me Boris, avisando-me que escolhi a condenação como um Orestes.

terça-feira, outubro 13, 2015

Se o tempo e o corpo nos encurralarem. Se os dias nos cobrirem de poeira, muito mais que dos espaços em branco com que sonhámos numa juventude que teimamos em convocar. Que os gestos valham, como a flor. Que possas ser visitada pela alegria. Sempre. E dessas visitas rejubilem os meus olhos. Pressentindo-te. Firme presença.  Contra a aridez, do mundo,dos outros, da nossa.

quinta-feira, abril 23, 2015

Quando a gasolina estiver mais barata amor, saímos da cidade e vamos até ao Guincho, ou mais à frente, ao cabo, ver o mar. Não sabia que havia tantos loucos. Tantos.

quinta-feira, novembro 27, 2014

Saudade doce sem glicose

Ainda bem que há árvores lá em baixo para que a chuva que cai desesperada tenha o som de uma conversa.